WOOL 2024
MURAIS
Millo IT
MotsPT+PL
MuraBR
Daniela GuerreiroPT
INSTALAÇÕES
SpYES
Isaac CordalES
RESIDÊNCIAS ARTÍSTICAS - MÚSICA
Ana Lua CaianoPT & Adufeiras da Casa do Povo do PaulPT
SillyPT & FredPT
WORKSHOP
Stencil orientado por SaminaPT
EXPOSIÇÃO
“Disto & Daquilo” exposição de fotografia por Miguel OliveiraPT _ projecto WOOL +
FILME DOCUMENTAL
“Subimos Junt_s?” realizado por Vasco MendesPT _ projecto WOOL +
MÚSICA
jesuínoPT
Robin TollePT
Saturation DiversPT
DJ X-ActoPT
CIRCO CONTEMPORÂNEO
“Chá das Cinco: peça para quatro amigas mais uma que nunca mais chega” pela companhia Coração nas MãosPT
CONVERSAS
Artistas WOOL 2024
Martha CooperEUA
WOOL TALKS | Conferência Internacional de Arte Urbana
RUA WOOL
WORKSHOPS – Fotografia pinhole por Luana Lobato, Tatuagem por Coé Tattoo, Feltragem molhada por Caganita, Serigrafia por A Avó Veio Trabalhar, Bordado artesanal por Luísa Leão e Tote bags sustentáveis por por Echoes
INSTALAÇÕES – “Evidências de provas” por Rafaela Ciríaco da Graça, “Artificial dreams” por Umbra e APPACDM
MÚSICA – Silly & Fred, DJ X-Acto, Margarida Geraldes & Renato Folgado, Adufeiras da Casa do Povo do Paul, Tear Sonoro e Jam Session by CISMA
MURAL PARTICIPATIVO – “Pintar a muitas mãos” por Valice Atelier
JOGOS – Jogos do Helder
FILMES – “Curtas na Capela” por UBIcinema
CONVERSAS – “Curtas na Capela” por UBIcinema e Martha Cooper
HÁ BANCAS NA RUA
COMES & BEBES
VISITAS GUIADAS
Orientadas por elemento da organização
PEÇAS CRIADAS
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Em 2024 o WOOL voltou a invadir a Covilhã para a realização da 11.ª edição do mais antigo festival de arte urbana em Portugal. E ambicionando continuar a assumir-se como exemplo de descentralização, inclusão, coesão social e transformação do território e da comunidade através da Arte, apresentámos a maior edição de sempre, com uma programação multidisciplinar, de intensa criação e ocupação do espaço público.
Mantendo os seus eixos fundamentais programáticos, aumentámos o número de artistas em actuação – Millo (IT), SpY (ES), Isaac Cordal (ES), Mots (PT+PL), Mura (BR), Daniela Guerreiro (PT) – que contribuíram para o já consagrado Roteiro WOOL que faz hoje, inegavelmente, parte da paisagem e do imaginário da Covilhã.
Umas das entradas no centro histórico da Covilhã, ganhou uma renovada imagem com o mural de grande dimensão do artista Millo, que recorrendo a elementos que remetem para o legado da indústria têxtil, nos fala da realidade actual e da necessidade de tecer a paz. A artista Daniela Guerreiro deixou, pelo agora ‘renascido’ Pátio dos Escuteiros, não um, mas dois murais que se complementam e nos quais ela registou a toma do chá, uma tradição local secular, introduzida pelos ingleses (empresários dos lanifícios) durante os séculos XVIII e XIX, o que resultaria na alcunha de “chazeiros” ou “chazistas” atribuída às gentes da Covilhã. A artista brasileira Mura, cujo trabalho se conecta com a botânica, deixou-nos um registo macro da “Genciana-amarela”, uma flor em vias de extinção que habita o maciço central da Serra da Estrela. Já a dupla Mots deu nova cara a uma das tabernas resistentes da Covilhã, em tempos reconhecida como a “Taberna do Papagaio”, trabalhando sobre esta memória de um papagaio que falava com os clientes. Ainda pelo centro histórico da cidade, o artista espanhol Isaac Cordal colocou em lugares inusitados, que só o olhar mais atento conseguirá descobrir, mais de 25 pequenas esculturas do seu projecto pessoal “Cement Eclipses”. Fazendo uma conexão específica com o nosso território, o artista realizou ainda um conjunto de intervenções que se relacionam com a vivência das Minas da Panasqueira. Fora do centro histórico da cidade, mais especificamente na Boidobra, a instalação em grande escala do reconhecido artista espanhol SpY, intitulada “Czech Hedgehog”. Por entre um verde quase imaculado, que resiste às “plantações de painéis solares que assolam as áreas agrícolas da Cova da Beira”, a instalação minimalista, inspirada numa estrutura anti-tanque da Segunda Guerra Mundial caracterizada pelo seu desenho cruciforme, re-significa este poderoso objecto histórico neste contexto específico, criando um diálogo dinâmico com o ambiente natural e os seus observadores.
Mas não ficámos por aí! Apresentámos muita música, acções de formação e capacitação, tecnologia, circo contemporâneo e novas actividades. Continuámos a investir na acessibilidade no âmbito do projecto ‘WOOL + | Arte Urbana mais acessível’ (que decorreu entre 2023 e 2024) e que capacitou o Roteiro WOOL de um conjunto de recursos para pessoas com deficiência e outras limitações. E lançámos um novo eixo de programação dedicada exclusivamente ao pensamento.
As WOOL TALKS, um dos dos grandes destaques da edição 2024, assumiram-se como uma conferência internacional e surgiram como resposta ao desejo de trazer até ao contexto singular do WOOL e da Covilhã, um espaço de pensamento, debate e partilha sobre este sector, sobre esta área artística e outras dimensões com as quais dialoga. O tema que conduziu esta primeira edição das WOOL TALKS, foi a relação entre “Arte Urbana e territórios de baixa densidade”, objectivando assim a reflexão e produção de conhecimento sobre estes palcos singulares e inusitados de produção cultural e artística. Esta dimensão de “baixa densidade” foi ainda foco de outras leituras que se associam ao sector artístico e seu potencial de transformação. Para estas primeiras WOOL TALKS contámos com a participação de algumas das maiores personalidades e mais respeitados investigadores, festivais e agentes deste sector a nível europeu e mundial. Ao longo de um intenso dia, foi possível comprovar que este é um sector, tal como qualquer outra área artística, que requer debate e reflexão, partilha de conhecimentos e de experiências, onde são claros os cruzamentos com inúmeras áreas e sectores. Este é um sector onde é possível perceber distintas metodologias, formatos, curadorias, práticas e programas, com fim a atingir diferentes objectivos e metas que se alinham com as necessidades de cada território e comunidade.
Às WOOL TALKS juntou-se ainda a habitual Conversa com Artistas, momento em que os talentos convidados partilharam os seus percursos e histórias particulares e peculiares. Nesta ‘edição expandida’, contámos ainda com uma conversa com Martha Cooper, a icónica fotojornalista norte-americana, que continua a registar uma cultura que expandiu e mudou drasticamente. Perante uma “Sala dos Continentes” esgotada, partilhou algumas das suas memórias ao fotografar o Graffiti e Arte Urbana desde a década de 1970 em Nova Iorque (EUA) e explanou a importância dos arquivos fotográficos para perpetuar e valorizar estas formas de expressão artística. Uma conversa que resultaria num artigo publicado numa revista da especialidade.
Nesta edição verificou-se também uma expansão do espaço musical do WOOL. Contámos com duas residências artísticas, que encabeçadas por artistas de renome na música independente e emergente em Portugal: Ana Lua Caiano juntou-se às Adufeiras da Casa do Povo do Paul e Silly a Fred, e em duplas foram desafiados a trabalhar neste e sobre este território (também sonoro) durante os dez dias de festival, ambicionando reforçar a sua identidade sonora e imaterial. Teremos de destacar os três miniconcertos com curadoria da CISMA – jesuíno, Robin Tolle e Saturation Divers – que se realizaram junto de três dos murais em execução e que trouxeram até inesperados pontos do centro histórico da Covilhã várias dezenas de espectadores atentos.
Neste resumo não podemos deixar de referir o momento que abriu esta 11.ª edição, que pelo Pátio dos Escuteiros juntou dezenas para assistir ao espectáculo de circo contemporâneo “Chá das Cinco” da premiada companhia Coração nas Mãos, e que não arredaram pé perante a chuva que caiu, já toda uma tradição do WOOL.
Como já não é segredo para ninguém, uma parte fundamental do WOOL é o encontro, a participação e a aprendizagem comunitária. E nesta edição 2024 levámos esta missão ao limite inaugurando um espaço físico que garante tudo isso: a RUA WOOL. Encerrámos o Centro Histórico da Covilhã e promovemos um sem fim de actividades, dos mais variados formatos e disciplinas artísticas – instalações artísticas, workshops, concertos, mural comunitário, jogos tradicionais, … – , onde também houve espaço para comes e bebes. Era um sonho nosso conseguir fechar o centro histórico da Covilhã, propor outras formas de estar e convidar parceiros locais e convidados para actuar nesta transformação. A RUA WOOL foi o lugar onde novos, velhos, residentes, visitantes, com e sem deficiência, de todas as cores e estaturas, nacionais ou internacionais, se encontraram, participaram e aprenderam lado-a-lado. Foi o lugar onde pudemos vivenciar simultaneamente o passado e o presente, a tradição e a modernidade, sonoridades de outros tempos e estreias absolutas. Foi bonito reviver memórias e construir outras para o futuro, entre muitos miúdos e graúdos, com os de cá e os que chegaram de muitas outras geografias. A RUA WOOL foi a comunidade WOOL a ganhar vida durante um dia, a materializar-se, a confirmar a sua casa.
A verdade é que não poderíamos estar mais satisfeitos com os resultados desta 11.ª edição do WOOL, onde foram testadas novas actividades e formatos que nos parecem ter chegado para ficar!